Passado a Limpo
Foi verão, outono, inverno e primavera “da lata”. As latas não paravam de chegar em 1987.
Foi verão, outono, inverno e primavera “da lata”. As latas não paravam de chegar em 1988.
Passado a limpo + 25 de setembro de 1987.
Há 37 anos no Guarujá, um gari estava catando lixo quando se deparou com uma grande lata fechada indo e vindo na espuma das ondas.
Ele descolou um abridor com um ambulante que passava e pufff…
Um cheiro de maconha o envolveu, como um gênio sendo libertado.
Nem o mais inventivo maconheiro poderia imaginar isso: um carregamento de 22 toneladas de cannabis da melhor qualidade, embalada a vácuo e acessível a qualquer um que se dispusesse a dar um pulinho no mar.
A maconha foi apelidada de Mike Tyson: um soco deixava o cara na lona.
E todo mundo queria saber de onde vinha aquele fumo tão potente.
Os jornais falavam no navio Solana Star e num cozinheiro com nome sonoro — Stephen Skelton.
As notícias contabilizavam o número de latas recolhidas pela PF, mas não iam a fundo.
Até que o cozinheiro foi preso, o barco foi apreendido e a história foi ficando quieta.
No vazio das investigações, as especulações proliferaram: os tripulantes do barco voltariam para buscar seu tesouro, que haveria de estar enterrado em alguma ilhota da Guanabara.
Outra: havia uma balsa à deriva, com todas as latas, que em dias de mudança de vento se soltavam e acabavam dando em alguma praia.
- As latas não paravam de chegar: em 1988, foi verão, outono, inverno e primavera “da lata”.
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O Brasil estava entrando na rota dos grandes shows de rock e, casualmente, na do tráfico internacional de drogas.
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Como não contar essa história, que deu certo (os americanos conseguiram evitar que a droga chegasse aos EUA), mas deu errado (a polícia brasileira não conseguiu apreender o barco no mar), mas deu certo (verão da lata)?
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Apesar de carregar a bandeira do Panamá, a embarcação tinha saído da Austrália – mas as loucuras não param por aí.
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Esse carregamento todo de maconha estava armazenado em 15 mil latinhas! Daquelas de leite em pó mesmo, sabe? Pode até parecer uma tática engenhosa, mas os traficantes não contavam que o Drug Enforcement Administration já sabia de tudo.